Em foco:
Lula e as greves no ABC Paulista
O movimento sindical em São Paulo projetou, em 1978, uma liderança
política de alcance nacional: o metalúrgico Luiz Inácio da Silva, que só
mais tarde incorporaria ao nome o apelido pelo qual era conhecido,
Lula. O presidente do Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo
e Diadema liderou a primeira greve operária do ABC paulista na ditadura
militar, instaurada em 1964 com o golpe que depôs o presidente João
Goulart e que se estenderia até 1985. Em 1968, metalúrgicos do município
de Osasco, na região metropolitana de São Paulo, já haviam desafiado o
regime militar e entrado em greve, que tinha entre os seus líderes José
Ibrahim.
Dez anos depois, os metalúrgicos do ABC cruzaram os
braços e paralisaram as montadoras. Na época, ficaram famosas as
assembleias no Estádio da Vila Euclides, de São Bernardo, em que Lula
discursava para milhares de trabalhadores. Reprimidos por policiais
militares, os grevistas também fizeram passeatas, ocupando praças e
avenidas no centro de São Paulo. Entre as reivindicações dos
trabalhadores estavam aumentos salariais, melhores condições de trabalho
e, no plano político, a anistia, bandeira da oposição à ditadura e cuja
lei foi assinada, em 1979, por João Figueiredo, o último general a
presidir o país. Eram tempos em que, com as empresas paradas,
metalúrgicos e patrões fechavam acordos durante longas negociações
realizadas na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Na
greve realizada em abril de 1980, cerca de 140 mil metalúrgicos
cruzaram os braços. A repressão ao movimento, apoiado por parlamentares
da oposição engressos do MDB, entre eles o deputado Ulysses Guimarães e
representantes da bancada fluminense que viajaram para São Paulo,
incluiu até helicópteros do Exército. Armados de metralhadoras, eles
sobrevoaram as assembleias no Estádio da Vila Euclides. Com o sindicato
sob intervenção do governo, Lula acabaria sendo preso em sua casa por
agentes do Dops, no dia 19 de abril, numa operação que envolveu a prisão
de outros dirigentes sindicais. Durante a sua detenção, obteve
permissão especial para, escoltado, ir à missa de corpo presente de sua
mãe. Em 20 de maio de 1980, Lula teve sua prisão preventiva revogada e
deixou o Dops.
Postar um comentário